“... abriu-lhes Deus os olhos” Gn 21
Li que o sermão em que Charles H. Spurgeon analisa o texto acima de forma maravilhosa, demonstrando como as pequenas ações de Deus provocam grandes transformações. Repare que Hagar e Ismael foram desterrados, deserdados e desprezados. Despedidos, seguiram sem rumo numa dieta de pão e água. Ficaram tão impactados, perplexos e sem esperança que se perderam, e acabando os parcos recursos cruzaram a última linha, fronteiriça com a morte. Humanamente falando, não havia oportunidade para um retorno, tinham chegado ao fim de uma viagem sem volta e aparentemente sem escolhas. Tudo parecia irremediavelmente incontornável. O sol causticante de Berseba, somada a nauseante aridez daquele deserto, entenebrecia demasiadamente a visão. O impiedoso calor, o pesado cansaço imbrincado à cruel desesperança multiplicava a "sede" elevada de forma excruciante que tombava o fragilizado ânimo. Tudo colaborava para que os passos vacilassem. Aturdida, Hagar, então, não vê outra solução a não ser abandonar o rapaz, se afastar de seu único filho, deixando-o agonizante bem embaixo de uma árvore. Apavorada, permaneceu distante um tiro de flecha. Um pensamento tilintava em sua mente: a obscura intenção de não testemunhar a penosa partida do infante. A inevitável e iminente morte é a manchete do versículo anterior. Mas o rapaz orou, ou talvez tenha somente chorado. O fato notório é que Deus ouviu a "voz", ou o gemido, do menino e agiu. Mas a rápida resposta da oração não veio a Ismael e sim a Hagar. Naquele momento o Eterno a fez lembrar do pacto, e após recobrada a lembrança, clareou o pensamento, aliviou o espírito e assim pôde ver o que já estava disponível para ela, mas que a dor, as lágrimas, o cansaço, o desespero, a revolta, a dúvida, a densa e mal cheirosa neblina das circunstâncias adversas a impedia de ver. A resposta palpável veio na forma de um poço que ela não havia percebido. Hagar já estava próxima a uma fonte borbulhante de águas frescas. A gritante lição para nós é que bem ali, ao lado de Hagar, estava a solução mas ela não enxergava, a providência não foi Deus trazer a existência uma fonte, Deus não fez brotar água da rocha, até poderia, mas Deus fez Hagar notar que a fonte estava ali.
É assim que o texto inspirado nos diz que a grandeza de Deus se revela, não só em grandes e extraordinários feitos, mas também, e, até especialmente, em pequenos e até nos mais simples atos providenciais e oportunos. Poderia Deus ter instantaneamente criado naquele lugar uma fonte, porém ao invés disso, apenas fez com que Hagar percebesse a existência de uma que já estava bem próxima a ela. Deus mudou a forma de Hagar perceber as coisas e, então, ela foi capaz de usufruir da "fonte" que mudou a história deles e da humanidade. Até hoje podemos verificar os descendentes de Ismael bem presentes em nossos dias, simplesmente porque Deus abriu os olhos de Hagar.
Se estás passando por difíceis situações, ore e peça a Deus que pelo menos abra seus olhos para que veja, enxergue e perceba as evidentes soluções por vezes tão próximas mas tão ignoradas.
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Alcançados pela Graça.
C. F. Henriques