“Portanto vós orareis assim...” (Mt 6.9)
Esta é uma oração da solidariedade. É uma prece da coletividade. É uma súplica da relação mútua. É uma invocação de compartilhamento. Este modelo de oração está no contexto de vários ensinos de Jesus acerca do Reino de Deus e do caráter de seus súditos. Esta é uma oração modelo chamada de “dominical” ou do “Pai nosso”. Todavia, mais do que uma reza a ser repetida, ela deve ser entendida e absorvida na prática diária da vida cristã. Isto porque, quando absorvo os ensinos desta oração, sofro mudanças em diversas dimensões do meu viver. Se não, vejamos:
Minha visão de Deus deixa de ser pessoal e particular. Jesus me ensina nesta oração que Deus é Pai de todos, ainda que nem todos sejam filhos de Deus. Ou seja: apesar de nem todos terem nascido de novo na qualidade de filhos de Deus, gerados pela fé em Jesus (Jo 1.12), Deus cuida de toda a sua criação, incluindo os homens maus (Mt 5.45), como um Pai cuidando de filhos bons e rebeldes. Daí ao orar devo me lembrar que não sou filho único de Deus. E que muitos dos quais eu não gostaria de ter como irmão tem a Deus como Pai.
Minha oração deixa de ser apenas petição. É quando as orações tornam-se intercessão. Jó foi duplamente abençoado quando intercedia pelos amigos que não foram tão amigos. O entendimento de que Deus é Pai de todos me permite pedir por outros além de mim mesmo. Deixo de ser egoísta não só nas minhas orações, mas na vida.
Meu conceito de santidade deixa de ser pietista. Pietismo e farisaísmo são sinônimos em muitos casos. A santidade é um deles. Para ambos ser santo é privilégio de poucos. Santidade é sinônimo de perfeição. Estes se vêem superiores aos demais. Enxergam os outros sempre de cima para baixo, com olhar de superioridade. Por isso Jesus ensina a orar por “nossas dívidas”. Ou seja: diante de Deus todos são devedores. Não há melhor ou pior. Todos estão em débito com Deus e com o próximo (Rm 3.10,12,23; 13.8).
Minhas bênçãos são compartilhadas. A figura do pão fala de comunhão, mesa, intimidade e compartilhamento. Mas quero ressaltar que este pão não é meu; é nosso. Isto é: tudo que for benção para mim não deve ter a mim mesmo como fim ultimo ou alvo final. Somos abençoados para abençoar. A máxima de Jesus é “daí de graça o que de graça recebeste”. Ou como disse Paulo, citando Jesus: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”.
Minha possibilidade de cair em tentação deixa de ser utópica. Nesta oração aprendo que qualquer um pode ser tentado e pode cair em tentação. Por isso devo orar sempre para ser livre dela. Aprendo ainda que a tentação dos outros, também pode ser minha. Isto, sem deixar de perceber que há tentações que em mim são só minhas, e que nos outros são só deles. Mas sem esquecer que todos são vulneráveis as tentações.
Meu desejo de vitória é coletivo. Quando oro segundo Jesus peço livramento e vitória para todos; não somente para mim. Isto vai radicalmente contra as campanhas de prosperidade promovidos pelas igrejas de hoje. Um verdadeiro incentivo ao individualismo e egoísmo. Sem falar na inveja resultante de ambientes assim, onde a vitória de um não é motivo de alegria de todos.
Faça desta oração seu estilo de vida como igreja autentica!
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Nele, em quem sou e a quem sirvo!
Pr. Adriano Moreira.