“... transformai-vos pela renovação do vosso entendimento...”
Trecho da carta de Paulo aos romanos (12.1s)
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Os escritores neo testamentários encontraram inspiração para expressar fé através da palavra grega pistis que expressa certeza, convicção; Já os escritores do antigo testamento tinham a seu favor o idioma hebraico que no vernáculo emoná, alude fé como uma ação impulsionada, dirigida e orientada pelo que se acredita. A fé, entendida assim, realiza-se e, completa-se inteiramente, primeiro no interior do ser que crê, antes de evidenciar-se no exterior.
Note que o vocábulo grego expressa fé como convicção, foro íntimo, algo que não se vê. No idioma hebraico fé é entendida como ação. Algo que se vê! Algo que se percebe! Talvez, por isso, a vulgata latina preferiu considerar fé como jungida a fidelidade, na medida que fielmente se age (fator externo) de acordo com a convicção (fator interno) que se possui. A famosa tradução tenciona com isso expressar a ideia completa de fé. Da vulgata, se depreende que: sem convicção não se pode agir com fidelidade. Por isso utilizaram o termo em latim fides para traduzir tanto o termo emoná quanto pistis.
Por isso, não se pode perder de vista o segredo, não se pode olvidar do que Paulo sugere no texto supracitado completo (vale a pena ler): primeiro são as estruturas mentais (intrínsecas) que são modificadas para somente depois, secundariamente, se experimentar uma mudança (extrínseca) no ser e também, em virtude disso mesmo, ao redor (na família, sociedade). O mesmo escritor faz saber que as transformações acontecem (ou não) dependendo do nosso modo de encarar as circunstâncias, interpretar a vida e seus desafios, vicissitudes e dilemas. Para o apóstolo até a felicidade (almejada por todos os homens) é algo que se decide ter. Nós sabemos disso e até concordamos com o poeta:
“...oh! seja o que for,
Tu me fazes saber
que feliz com Jesus sempre sou!”
É a convicção, a fé, este pensamento concreto, renovado, decidido, convicto, determinado, apurado e contextualizado que é diferencial e produz mudança, transformação em nós e na sociedade em que estamos inseridos.
A fé obrigatoriamente produz algo. Muda algo, em nós e também em outros (a partir de nós). O processo de mudança não pode ser apenas teórico, mas prático. E a nossa praxis deve caminhar pari-passu com o teórico. A reflexão que fazemos da palavra não deve ficar apenas no plano mental, intelectual. E não é só nos escritos paulinos, toda a escritura sagrada trabalha o tema. A interpretação de textos com altas temperaturas teológicas, como os encontrados no quarto evangelho, o de João, em que se frisa “o permanecer na palavra” deve ser bem entendido como não apenas meditar, e sim (vividamente) praticar. O trecho retoma e reintegra a exordial proposta do ensino joanino: o verbo se faz carne em nós, quando a Palavra do Cristo cria vida em nossos próprios membros.
Neste sentido nós devemos ser um bom perfume. Devemos ter o mesmo cheiro de Cristo! Se encarnamos a Palavra, somos cartas vivas. As palavras do Cristo ganham vida através de nós! Se encarnam em nós! Paulo afirma isso, quando diz que Cristo vive nele. Cristo deve viver também em nós! E Cristo só vive em nós quando suas palavras estão vivas em nós. Quando agimos de acordo com os seus ensinamentos - (Jo 8.32).
Esta é a nossa responsabilidade para com a propagação da mensagem teórico-prática do evangelho.
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Alcançados pela Graça!
C. F. Henriques