top of page

“Deixai vir a mim os pequeninos, não os impeçais”. (Mt 19.14)

----

Expressões de fé, simples como a de minha pequena filha, poderiam deixar, quem sabe, muitos crentes embaraçados. A natural fé de uma criança é que as habilita a este reencontro com Deus. A pureza de seus corações, ligada a facilidade em perdoar e esquecer as ofensas faz parte do corolário das sublimes e mais elevadas experiências da infância.

Camila queria que sua coelha voltasse a viver e convicta, acreditava que isso era perfeitamente e naturalmente possível. Mas como foi que a criança ficou com tanta certeza em seu coração? Bem, para esclarecer isso será necessária uma digressão. Voltemos no tempo um pouco mais: Camila, minha primogênita, nasceu num lar em que foi amada desde o primeiro momento da concepção. Ao nascer, foi logo consagrada ao Senhor, recebeu todos os mimos possíveis e imagináveis dos avós, tios e tias, e especialmente da mãe e do pai. Entrementes, todo o cuidado, carinho e amor dispensados a ela não a livrou de passar por momentos muito difíceis.

Foi naquele dia, pela manhã! O sol sorria para nós e o vento que empurrava algumas insistentes nuvens naquele vasto céu azul, soprava suavemente massageando os nossos rostos e as bochechas rosadas de Camila, enquanto brincávamos na varanda. Lembro-me, das gostosas e prolongadas risadas que Camila dava, quando eu a suspendia e seguidamente a descia repentinamente, apesar das intensas objeções da super-protetora mãe. Não é difícil lembrar que no início daquela manhã estávamos muito alegres, realizados, completos. Enfim, a primeira mamadeira seria servida. Todos estavam ansiosos, a nossa pequenina comilona, inicialmente estranhando o “bico”, logo aceitou e agarrou a “enorme” garrafa com seus pequeníssimos dedos, e, passou a sugar vigorosamente o saboroso preparado sob o olhar fascinado e terno dos pais. Quando ela, de repente, tossiu e seguidamente parou de respirar achamos, é claro, que estava apenas engasgada. Infelizmente ela estava tendo, o que somente depois viemos saber, um forte choque alérgico devido a uma hipersensibilidade a lactose. Tomados de espanto, tentando desesperadamente de alguma forma socorrer, enquanto perplexos percebíamos que seus olhos tão vivos e brilhantes, naquele momento escoava, ofuscando-se lentamente como uma vela que se apagava enquanto fixava os olhos em nós, pedindo com o vazio e assombrado olhar a nossa ajuda. Sua pele clarinha, agora esbranquiçada, tornava-se rapidamente em um claro e pálido ciano. Não podíamos titubear, o tempo era nosso inimigo. Dentro do veículo que passou em segundos a percorrer aceleradamente e sem rumo certo as ruas intermináveis e, naquele momento, quase infinitas em busca de socorro, pensava: onde vou encontrar socorro tão rápido para minha filha?  Incapaz de ajudar constatei: Eu a estou perdendo! Ninguém fica sem respirar por mais de cinco, seis, sete minutos... talvez fique oito ou quem sabe ela resista a nove minutos... Enquanto meus pensamentos me torturavam, de súbito, ouvi desesperados gritos vindo do banco de trás: Minha filha!!! Minha Filha!!! Meu Deus !!! Minha filha!!! Era a Lílian. Nunca havia ouvido, nem jamais voltei a ouvir, um grito tão doloroso, pesado e desesperado, como aquele que ouvi naquele dia. Sem pestanejar, como nunca antes, de forma rápida, segura e objetiva disse para o Companheiro que sempre está comigo: Meu Senhor salve a minha filha!

----
Continua...
----
Alcançados pela Graça!
C. F. Henriques

DEIXAI VIR A MIM OS PEQUENINOS

PARTE II

© 2016 Aqui nós temos a Bíblia como nosso Parâmetro.

bottom of page