“Deixai vir a mim os pequeninos, não os impeçais”. (Mt 19:14)
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De súbito, deitada em seu quarto Camila perguntou: Pai, Jesus vai me curar?
A pergunta simples de minha pequena filha causou-me estranheza, Camila sempre afirmava que Jesus a iria curar. Pela primeira vez uma sorrateira dúvida se esgueirava pela sua mente. Não titubeei, afirmei para ela que Jesus iria curá-la. Lembro que fui, ao tempo em que falava, assaltado por pensamentos de incerteza. A minha contundente afirmativa não alterou em nada seu olhar, nem provocou qualquer reação positiva. A reação alérgica estupidamente agressiva provocou danos bem maiores do que imaginávamos, ao contrário das outras vezes percebi que a alegria expressada sempre num lindo e confiante sorriso, desta vez, deu lugar a uma expressão que não ouso me esquecer. A confiante criança, agora mostrava sinais de exaustão, frieza e até decepção. Fiz uma oração em meu íntimo: Meu Senhor, se é da tua vontade curar minha pequenina, acredito que chegou a hora.
A noite eu iria pregar em nossa igreja, a temática daquela noite de congresso me esmagava. Meu coração estava despedaçado. Teria que falar que Deus curava, libertava, salvava e também que no final nos levaria para o céu. Mas a situação era muito difícil, certamente Camila estaria no culto e como sempre, ficaria atenta ouvindo todo o sermão. Como alguém tão pequenina, imaginava eu, iria equalizar isso em sua mente e coração? Sabia que aquela semana tinha sido difícil para ela, ainda me lembrava de seu triste olhar, e de seu rosto desfigurado naquele leito na Unidade de Emergência.
O culto começou,ainda lembro da minha boca estranhamente seca e do alívio por terem levado Camila para ficar com as crianças, porém, na metade da pregação, de repente, Camila entrou no templo e foi para o meio do corredor, trazia em suas mãos um copo de iogurte, algo que para ela, devido a enfermidade, era a mesma coisa que veneno. Olhou para mim e bebeu todo o frasco de uma só vez e sorrindo correu para fora do templo. Naquela semana o mesmo iogurte quase a havia matado, pelo simples fato de ter tido contato com sua pele. Que efeitos nefastos teria caso fosse ingerido? Pedi a mãe para procurar a Camila. Em minha mente, pensava: minha filha enlouqueceu. Pior, cheguei a pensar que estava cometendo suicídio. Assustado, iria encerrar o sermão e correr para o hospital. Quando a mãe entrou calmamente e sentou-se em minha frente, um leve sorriso no rosto, enquanto fazia discretos sinais para continuar pregando. Cogitei, então que não era iogurte, deveria ser outra coisa, talvez algo a base de soja. Que bom! Pensei reconfortado, agradecendo a Deus. Depois encerrei “normalmente” a preleção.
Após o culto fui informado do que aconteceu. Camila havia descido para ir ao toillete, entretanto, um homem a interpelou no corredor da igreja. Camila, dizia com naturalidade que Jesus apareceu para ela e a curou. Agachou-se e disse a ela que poderia ir a cantina e comer o que quisesse. E ela o fez. O mais interessante é que ninguém, especialmente depois do que aconteceu naquela semana, daria qualquer coisa derivada do leite a ela, especialmente sua tia que havia acompanhado o ocorrido e estava de serviço na cantina. Porém, estranhamente, ao ouvir a explicação de Camila a tia quase sem entender o que estava fazendo entregou um pote de iogurte nas suas mãos.
Foi assim, durante aquele culto em que, atendendo a temática proposta, eu pregava sobre cura, que o milagre aconteceu. Jesus visitou Camila e a curou, não só daquela enfermidade e de alguma forma também por misericórdia curou a todos nós.
Lembro-me das fortes emoções que experimentamos naquele dia. Fomos ao supermercado, no dia seguinte, e compramos sorvete, leite condensado, barras de chocolate, bombons e outros produtos derivados do leite. Camila experimentou cada um deles. Nunca mais teve reação alérgica ao leite ou a seus derivados.
Foi assim que, não só Camila, todos que passaram pela experiência ficaram tão confiantes em Deus.
Bem, o coelho não ressuscitou, mas um irmão, ouviu Camila contando o caso da bichinha e resolveu dar uma linda e gorda coelhona. De certa forma Jullieth foi devolvida a ela.
Com aquele sorriso estampado em seu rosto Camila recitou com confiança as palavras do Cristo gravadas em João 14.14 -“Se pedirdes alguma coisa, em meu nome, eu o farei”.
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Alcançados pela Graça!
C. F. Henriques